Criador de "Calvin e Haroldo" dá entrevista depois de 15 anos do fim da tirinha.






















Bill Watterson, criador de "Calvin e Haroldo" (Calvin and Hobbes, em inglês), a mais famosa tirinha da história, responde a perguntas no que se entende como a primeira entrevista desde o fim da publicação das histórias do garoto, em 1989.

A sessão de perguntas e respostas foi feita por e-mails com o repórter John Campanelli do jornal "
Plain Dealer" de Cleveland (cidade americana no Estado de Ohio). Leia a entrevista traduzida na íntegra:

Campanelli: depois de quase 15 anos de separação e reflexão, o que você acha que "Calvin e Haroldo" tinha de especial que transcendia a captura da atenção dos leitores, e chegava na de seus corações também?


Watterson: a única parte que eu entendo é aquela que envolvia a criação da tirinha. Aquilo que os leitores entendem e sentem é uma decisão deles mesmos. Uma vez que a tirinha é publicada, os leitores trazem suas próprias experiências para ela, e o trabalho toma vida própria. Cada um responde diferentemente à partes diferentes.

Eu simplesmente tentei escrever honestamente, e tentei fazer este mundo ser divertido de se observar, então as pessoas tomariam o tempo para ler. Este é o total de minhas preocupações. Você mistura um monte de ingredientes, e uma vez a cada muito tempo, uma química acontece. Eu não posso explicar por quê a tirinha se popularizou de tal forma, e eu não acho que eu poderia repetir o que fiz. Muitas coisas precisam dar certo todas de uma só vez.


Campanelli: quais são seus pensamentos a respeito do legado deixado pela tirinha?


Watterson: isso não é um assunto que me deixa acordado à noite. Os leitores sempre decidirão por eles mesmos o que é significativo e relevante, e eu posso conviver com qualquer conclusão à qual eles cheguem. Mais uma vez, meu papel nisso tudo praticamente se encerrou uma vez que a tinta ficou seca.

Campanelli: os leitores se tornaram amigos dos seus personagens, então, compreensivelmente, eles sofreram - e ainda sofrem - com o encerramento da tirinha. O que você gostaria de dizer para eles?

Watterson: isso não é tão difícil de entender quanto as pessoas tentam afirmar. Depois de 10 anos, e já tinha dito praticamente tudo que tinha ido lá para dizer.

É sempre melhor sair cedo da festa. Se eu tivesse ido na maré de popularidade da tirinha e me repetido por mais 5, 10 ou 20 anos, as pessoas que agora "sofrem" pelo fim de "Calvin e Haroldo" estariam desejando que eu estivesse morto, e amaldiçoando os jornais por publicar tirinhas velhas e tediosas como as minhas, em vez de adquirir materiais mais novos e mais vivos. E eu estaria concordando com elas.

Eu acho que parte da razão pela qual "Calvin e Haroldo" ainda tem público hoje, é porque eu escolhi não desgastar a tirinha explorando-a até a última gota.

Nunca me arrependi de ter parado quando parei.


Campanelli: em razão de você ter sensibilizado tantas pessoas com seu trabalho, seus fãs sentem uma conexão com você, como se eles o conhecessem. Eles querem mais do seu trabalho, mais Calvin, outra tirinha, qualquer coisa. É realmente uma espécie de relação parecida com a de fãs de estrelas do rock. Considerando sua aversão à atenção, como você lida com isso ainda hoje? E como você lida com a noção que isto o seguirá até final de seus dias?

Watterson: ah, a vida de um cartunista de jornal - como eu sinto falta das seguidoras, drogas e quartos de hotel destruídos!

Desde meus dias de "estrela do rock", a atenção pública diminui bastante. Em termos de Cultura Pop, os anos 90 aconteceram há eras. Há alguns surtos de estranheza ocasionais, mas na maior parte do tempo eu sigo com a minha pacata vida e faço o meu melhor para ignorar todo o resto. Eu tenho orgulho da tirinha, imensamente grato pelo seu sucesso, e verdadeiramente lisonjeado pelas pessoas ainda a lerem, mas eu escrevi "Calvin e Haroldo" quanto tinha os meus trinta e tantos anos, e hoje estou milhas de distância deste ponto.

Um trabalho de arte pode permanecer congelado no tempo, mas eu tropeço pelos anos assim como todo mundo. Acredito que os fãs mais profundos compreendem isso, e estão dispostos a me dar espaço para que eu siga adiante com a minha vida.


Campanelli: quando tempo vai demorar para que você mande uma carta usando o selo do Calvin no envelope após seu lançamento pelo serviço postal americano?

Watterson: vou mandar imediatamente! Subirei na minha charrete e enviarei um cheque para pagar pela minha assinatura de jornal pelo correio-lesma ("
snail-mail", expressão para o correio padrão. Watterson está sendo altamente sarcástico nesta resposta, fazendo graça com o fato de cartas em papel serem consideradas antigas).

Campanelli: como você quer que as pessoas se lembrem daquele garoto de 6 anos e seu tigre?

Watterson: eu voto em "Calvin e Haroldo: oitava maravilha do mundo".

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